“A palavra “sertão” é
curiosa. A sonoridade sugere o verbo “ser” numa dimensão empolada. Ser tão,
existir tanto. Os portugueses levaram a palavra para África e tentaram nomear
assim a paisagem da savana. Não resultou. A palavra não ganhou raiz. Apenas nos
escritos coloniais antigos se pode encontrar o termo “sertão”. Quase ninguém
hoje, em Moçambique e Angola, reconhece o seu significado.
João Guimarães Rosa
criou este lugar fantástico, e fez dele uma espécie de lugar de todos os
lugares.(...) O sertão é um mundo construído na linguagem. “O sertão”, diz ele,
“está dentro de nós.” Rosa não escreve sobre o sertão. Ele escreve como se ele
fosse o sertão.
Em Moçambique nós
vivíamos e vivemos ainda o momento épico de criar um espaço que seja nosso, não
por tomada de posse, mas porque nele podemos encenar a ficção de nós mesmos,
enquanto criaturas portadoras de História e fazedoras de futuro. Era isso a
independência nacional, era isso a utopia de um mundo sonhado.” ( Mia Couto em Se Obama fosse Africano)
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